Fig. 1
Na imagem acima
publicada apresentamos o prospecto da desaparecida Ermida de Santo Ambrósio,
que ficava em Lisboa, na rua do mesmo nome, actual Rua D. Dinis, entre a Rua do
Sol ao Rato e o início da Rua da Arrábida, na freguesia de Santa Isabel (Campo
de Ourique).
Embora
Norberto de Araújo indique esta capela como edificada em 1731 (ARAÚJO, 1993 : 64),
os autos existentes no Fundo da Câmara Eclesiástica de Lisboa (Torre do Tombo),
assim como a licença existente nos Livros de Registo da Câmara Patriarcal de
Lisboa (Arquivo Histórico do Patriarcado), indicam que a mesmo foi edificada em
1738, sendo dada licença para ser visitada, benzida e aprovada por Provisão de 11
de Junho de 1738, conforme documento que publicamos no fim deste texto.
Teve esta
ermida a particularidade de ter funcionado como sede da paróquia de Santa
Isabel desde 14 de Maio de 1741, então criada por D. Tomás de Almeida (CASTRO,
1763 : 291, 297), isto enquanto se construía 1.ª fase da Igreja paroquial, obra
do arquitecto Rodrigo Franco, depois concluída por Carlos Mardel. Foi ainda sede
da paróquia da Encarnação logo a seguir ao terramoto de 1 de Novembro de 1755
(SEQUEIRA, 1916 : 75).
O fundador da
ermida foi Ambrósio Lopes Coelho
(1704 + ?), natural de Lourinhã, homem de negócios da Praça de Lisboa,
contratador da Casa da Portagem (1740) e proprietário do ofício de Meirinho do
Mar, Ribeira e armazéns de Lisboa. Este rico comerciante — homem de fartos
haveres — como mais tarde se mencionará na habilitação na Ordem de Cristo de um
seu familiar, além dos ofícios que teve, já em 1735 comerciava bens do Brasil,
sobretudo «patacaria e prata», para a China e para outras regiões do Oriente.
Segundo
informações que nos foram gentilmente cedidas pelo Dr. Gonçalo Monjardino
Nemésio, eminente investigador das famílias portuguesas de origem italiana, Ambrósio
Lopes Coelho, viúvo de Isabel Maria da Fonseca, casou em 2.ªs núpcias em 1734,
na fregª do SS.mo Sacramento, Lisboa, onde era morador, com D. Joana Joaquina Jorge, uma das filhas
de João Jorge (Jori), sem dúvida o
mais rico comerciante de Lisboa na época de D. João V, que sendo natural da
província de Milão veio para Portugal no início do século XVIII,
estabelecendo-se na Rua da Junqueira, Belém, onde comerciava para as províncias
portuguesas ultramarinas bens diversos, mas em especial vinhos.
A filha deste
casal, Maria Luísa Albertoni, nasceu
na mesma freguesia do Sacramento em 1745, e segundo o mesmo investigador, em 19
de Fevereiro 1765 “na Hermida de S. João Baptista, das Cazas de Paulo Jorge (ou
Jori)”), casou com Policarpo José Machado (I), vindo este casal a ser pais de
extensa prole, entre eles:
- Maria Teresa
Machado c.c. Daniel Gildemeester;
- Caetano José
da Gama Machado c.c. Ana Florência Bandeira;
- Francisco
José da Gama Machado c.c. Joana Francisca Jorge;
- Policarpo José Machado (II);
- Policarpo José Machado (II);
- António
Francisco Machado c.c. Ana Maria Cleofa Pereira Caldas, pais de Policarpo José Machado (III) (1796+1875), 1.º
Visconde de Benagazil, que foi um político, empresário agrícola e
comercial, militar e filantropo português.
Fig. 2
O chão onde se
achava a Ermida de Santo Ambrósio, propriedade de Ambrósio Lopes Coelho, era um
prazo de casas por detrás do chamado Convento das Trinas de Campolide, vulgo
Trinas do Rato (vide Fig. 2), e após a morte deste veio a ficar na posse dos
seus herdeiros até que em 1825
a quinta e casas de Santo Ambrósio, incluindo uma
pequena vila operária (mais tarde conhecida pela Vila Visconde de Santo
Ambrósio), foram colocados à venda, conforme anúncio da Gazeta de Lisboa de 16
de Julho desse ano:
«Vende-se hum
prazo emfateuzim perpétuo, situado nesta Cidade na rua de Santo Ambrosio N 56,
Freguezia da Santa Isabel, que se compoe de duas propiedades nobres com Ermida
no centro, com huma quintinha arruada de latadas, muitas parreiras, árvores de
fruta e vinha e varias propriedades реquепаs para accommodação de quinze moradores,
quem o pretender, pode dirigir-se ao mesmo prazo no dito N.º 56».
Em 1864 parece
que pertenciam ao Visconde de Rio Pardo, que nesse ano, em 11 de Agosto,
alcançou uma «Provisão de Licença para na [sua] Ermida [sita na Rua de St.º
Ambrósio com porta para a Rua que já serviu de Igreja Paroquial], no distrito
da freguesia de Santa Isabel haver Sacrário com o Augusto Sacramento da
Sacristia».
Este templete
setecentista desapareceu quando Francisco
António Namorado (Elvas, 1828 + Lisboa, 1904), médico da câmara do rei D.
Luís e político do Partido Regenerador, depois Visconde de Santo Ambrósio, adquiriu estas casas e as reedificou já
sem a capela, no ano de 1867, segundo prospecto do arquitecto Domingos Parente da Silva, de que se publica cópia onde
se identifica a antiga capela e a nova fachada para a Rua de Santo Ambrósio,
uma das duas para onde este palacete confrontava, sendo a outra a Rua do Sol ao
Rato.
Notava bem
Norberto de Araújo que esta ermida teve a particularidade de dar o nome a uma
rua, Rua de Santo Ambrósio, rua que por sua vez deu o nome a um título
nobiliárquico, Visconde de Santo Ambrósio, o qual por sua vez veio dar origem à
nova designação da mesma a rua no fim do século XIX, Rua do Visconde de Santo
Ambrósio, nome que esta rua manteve antes ser alterado para o actual, Rua D.
Dinis, na década de 1920.
(ARAÚJO, 1938
: 67)
Caparica, 28
de Setembro de 2015
FONTES:
Arquivo
Municipal de Lisboa, Expediente, Prospetos, PT/AMLSB/CMLSB/ADMG-E/08/1074, pub.
http://arquivomunicipal2.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Documento.aspx?DocumentoID=76557&AplicacaoID=1
Lisboa, Torre
do Tombo, Câmara Eclesiástica de Lisboa, mç. 1808, doc. s/n de 11-6-1738.
Gazeta de
Lisboa, 16-7-1825.
Arquivo
Histórico do Patriarcado de Lisboa, Registo Geral de 1738 e Expediente de 1864.
BIBLIOGRAFIA:
ARAÚJO, Norberto
de – Peregrinações em Lisboa, vol. 2,
1938.
ARAÚJO,
Norberto de – Peregrinações em Lisboa,
vol. 11, 1993.
CASTRO, João
Baptista de – Mappa de Portugal, vol.
3, 1763.
FOLQUE, Filipe
– Atlas da carta topográfica de Lisboa:
Carta n.º 26, 1857.
SEQUEIRA,
Gustavo de Matos – Depois do terremoto,
vol. 1, 1916.
SITES:
IMAGENS:
Fig. 1: Prospeto
do prédio que Francisco António Namorado pretende alterar na rua do Sol ao
Rato, fazendo frente para a rua de Santo Ambrósio, 1867
(PT/AMLSB/CMLSB/ADMG-E/08/1074)
Fig. 2:
Excerto do Atlas da carta topográfica de
Lisboa: Carta n.º 26, 1857.
DOCUMENTOS:
«Emm[inentíssim]o
e R[everendíssimm]o Sr.
Diz Ambrozio
Lopes Coelho que elle tem feito huã Hermida junto ao Convento das Relligiozas
de Campo Lide Extramuros desta cidade dedicada ao Dr. da Igreja o Sr. St.º Ambrozio,
a qual se acha prompta e preparada para nella se poder cellebrar o St.º
Sacrefício da missa, o que senão pode fazer sem que primeiro seha vezitada e
approvada para o dito effeito. Pede a V. Emm.ª lhe faça mercê mandar seja
vezitada e approvada na forma costumada. E R[eceberá] M[ercê].
[Despachos] O
Dezembargador Bernardo Gomes Morim vezite a Capella e nos informe da sua
decençia, ornamentos e dote. Lixboa Occidental a 14 de Junho de 1738. C[ardeal]
P[atriaca].
P[asse]
Provizão de Licença e o nosso Vigário benzerá a Irmida rezistada a escritura e
dotte no Livro dos patrimonios. Lx.ª Occidental, 10 de Junho de 1738.
P[assada] P[rovizão]
em 11 de Junho de 1738».
Fonte: Lisboa,
Torre do Tombo, Câmara Eclesiástica de Lisboa, mç. 1808, doc. s/n