segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Ermida de Santo Ambrósio, em Santa Isabel (Lisboa)


Fig. 1

Na imagem acima publicada apresentamos o prospecto da desaparecida Ermida de Santo Ambrósio, que ficava em Lisboa, na rua do mesmo nome, actual Rua D. Dinis, entre a Rua do Sol ao Rato e o início da Rua da Arrábida, na freguesia de Santa Isabel (Campo de Ourique).



Embora Norberto de Araújo indique esta capela como edificada em 1731 (ARAÚJO, 1993 : 64), os autos existentes no Fundo da Câmara Eclesiástica de Lisboa (Torre do Tombo), assim como a licença existente nos Livros de Registo da Câmara Patriarcal de Lisboa (Arquivo Histórico do Patriarcado), indicam que a mesmo foi edificada em 1738, sendo dada licença para ser visitada, benzida e aprovada por Provisão de 11 de Junho de 1738, conforme documento que publicamos no fim deste texto.

Teve esta ermida a particularidade de ter funcionado como sede da paróquia de Santa Isabel desde 14 de Maio de 1741, então criada por D. Tomás de Almeida (CASTRO, 1763 : 291, 297), isto enquanto se construía 1.ª fase da Igreja paroquial, obra do arquitecto Rodrigo Franco, depois concluída por Carlos Mardel. Foi ainda sede da paróquia da Encarnação logo a seguir ao terramoto de 1 de Novembro de 1755 (SEQUEIRA, 1916 : 75).

O fundador da ermida foi Ambrósio Lopes Coelho (1704 + ?), natural de Lourinhã, homem de negócios da Praça de Lisboa, contratador da Casa da Portagem (1740) e proprietário do ofício de Meirinho do Mar, Ribeira e armazéns de Lisboa. Este rico comerciante — homem de fartos haveres — como mais tarde se mencionará na habilitação na Ordem de Cristo de um seu familiar, além dos ofícios que teve, já em 1735 comerciava bens do Brasil, sobretudo «patacaria e prata», para a China e para outras regiões do Oriente.

Segundo informações que nos foram gentilmente cedidas pelo Dr. Gonçalo Monjardino Nemésio, eminente investigador das famílias portuguesas de origem italiana, Ambrósio Lopes Coelho, viúvo de Isabel Maria da Fonseca, casou em 2.ªs núpcias em 1734, na fregª do SS.mo Sacramento, Lisboa, onde era morador, com D. Joana Joaquina Jorge, uma das filhas de João Jorge (Jori), sem dúvida o mais rico comerciante de Lisboa na época de D. João V, que sendo natural da província de Milão veio para Portugal no início do século XVIII, estabelecendo-se na Rua da Junqueira, Belém, onde comerciava para as províncias portuguesas ultramarinas bens diversos, mas em especial vinhos.
A filha deste casal, Maria Luísa Albertoni, nasceu na mesma freguesia do Sacramento em 1745, e segundo o mesmo investigador, em 19 de Fevereiro 1765 “na Hermida de S. João Baptista, das Cazas de Paulo Jorge (ou Jori)”), casou com Policarpo José Machado (I), vindo este casal a ser pais de extensa prole, entre eles:
- Maria Teresa Machado c.c. Daniel Gildemeester;
- Caetano José da Gama Machado c.c. Ana Florência Bandeira;
- Francisco José da Gama Machado c.c. Joana Francisca Jorge;
Policarpo José Machado (II);
- António Francisco Machado c.c. Ana Maria Cleofa Pereira Caldas, pais de Policarpo José Machado (III) (1796+1875), 1.º Visconde de Benagazil, que foi um político, empresário agrícola e comercial, militar e filantropo português.
 

Fig. 2

O chão onde se achava a Ermida de Santo Ambrósio, propriedade de Ambrósio Lopes Coelho, era um prazo de casas por detrás do chamado Convento das Trinas de Campolide, vulgo Trinas do Rato (vide Fig. 2), e após a morte deste veio a ficar na posse dos seus herdeiros até que em 1825 a quinta e casas de Santo Ambrósio, incluindo uma pequena vila operária (mais tarde conhecida pela Vila Visconde de Santo Ambrósio), foram colocados à venda, conforme anúncio da Gazeta de Lisboa de 16 de Julho desse ano:
«Vende-se hum prazo emfateuzim perpétuo, situado nesta Cidade na rua de Santo Ambrosio N 56, Freguezia da Santa Isabel, que se compoe de duas propiedades nobres com Ermida no centro, com huma quintinha arruada de latadas, muitas parreiras, árvores de fruta e vinha e varias propriedades реquепаs para accommodação de quinze moradores, quem o pretender, pode dirigir-se ao mesmo prazo no dito N.º 56».

Em 1864 parece que pertenciam ao Visconde de Rio Pardo, que nesse ano, em 11 de Agosto, alcançou uma «Provisão de Licença para na [sua] Ermida [sita na Rua de St.º Ambrósio com porta para a Rua que já serviu de Igreja Paroquial], no distrito da freguesia de Santa Isabel haver Sacrário com o Augusto Sacramento da Sacristia».

Este templete setecentista desapareceu quando Francisco António Namorado (Elvas, 1828 + Lisboa, 1904), médico da câmara do rei D. Luís e político do Partido Regenerador, depois Visconde de Santo Ambrósio, adquiriu estas casas e as reedificou já sem a capela, no ano de 1867, segundo prospecto do arquitecto Domingos Parente da Silva, de que se publica cópia onde se identifica a antiga capela e a nova fachada para a Rua de Santo Ambrósio, uma das duas para onde este palacete confrontava, sendo a outra a Rua do Sol ao Rato.

Notava bem Norberto de Araújo que esta ermida teve a particularidade de dar o nome a uma rua, Rua de Santo Ambrósio, rua que por sua vez deu o nome a um título nobiliárquico, Visconde de Santo Ambrósio, o qual por sua vez veio dar origem à nova designação da mesma a rua no fim do século XIX, Rua do Visconde de Santo Ambrósio, nome que esta rua manteve antes ser alterado para o actual, Rua D. Dinis, na década de 1920.
(ARAÚJO, 1938 : 67)

Rui Manuel Mesquita Mendes
Caparica, 28 de Setembro de 2015


FONTES:
Arquivo Municipal de Lisboa, Expediente, Prospetos, PT/AMLSB/CMLSB/ADMG-E/08/1074, pub. http://arquivomunicipal2.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Documento.aspx?DocumentoID=76557&AplicacaoID=1
Lisboa, Torre do Tombo, Câmara Eclesiástica de Lisboa, mç. 1808, doc. s/n de 11-6-1738.
Gazeta de Lisboa, 16-7-1825.
Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa, Registo Geral de 1738 e Expediente de 1864.

BIBLIOGRAFIA:
ARAÚJO, Norberto de – Peregrinações em Lisboa, vol. 2, 1938.
ARAÚJO, Norberto de – Peregrinações em Lisboa, vol. 11, 1993.
CASTRO, João Baptista de – Mappa de Portugal, vol. 3, 1763.
FOLQUE, Filipe – Atlas da carta topográfica de Lisboa: Carta n.º 26, 1857.
SEQUEIRA, Gustavo de Matos – Depois do terremoto, vol. 1, 1916.

SITES:

IMAGENS:
Fig. 1: Prospeto do prédio que Francisco António Namorado pretende alterar na rua do Sol ao Rato, fazendo frente para a rua de Santo Ambrósio, 1867 (PT/AMLSB/CMLSB/ADMG-E/08/1074)
Fig. 2: Excerto do Atlas da carta topográfica de Lisboa: Carta n.º 26, 1857.

DOCUMENTOS:
«Emm[inentíssim]o e R[everendíssimm]o Sr.
Diz Ambrozio Lopes Coelho que elle tem feito huã Hermida junto ao Convento das Relligiozas de Campo Lide Extramuros desta cidade dedicada ao Dr. da Igreja o Sr. St.º Ambrozio, a qual se acha prompta e preparada para nella se poder cellebrar o St.º Sacrefício da missa, o que senão pode fazer sem que primeiro seha vezitada e approvada para o dito effeito. Pede a V. Emm.ª lhe faça mercê mandar seja vezitada e approvada na forma costumada. E R[eceberá] M[ercê].
[Despachos] O Dezembargador Bernardo Gomes Morim vezite a Capella e nos informe da sua decençia, ornamentos e dote. Lixboa Occidental a 14 de Junho de 1738. C[ardeal] P[atriaca].
P[asse] Provizão de Licença e o nosso Vigário benzerá a Irmida rezistada a escritura e dotte no Livro dos patrimonios. Lx.ª Occidental, 10 de Junho de 1738.
P[assada] P[rovizão] em 11 de Junho de 1738».

Fonte: Lisboa, Torre do Tombo, Câmara Eclesiástica de Lisboa, mç. 1808, doc. s/n

Lisboa e a Grande Estremadura: História e Património

A Grande Estremadura é uma região do Centro Litoral de Portugal que abrange, grosso modo, o território das antigas províncias da Estremadura e Ribatejo, além de parcelas do litoral beirão e do litoral alentejano.

Com uma história comum, grande parte dela centrada na acção dinamizadora da cidade de Lisboa e do seu entorno periurbano, bem como de alguns núcleos urbanos regionais como Santarém, Setúbal, Torres Vedras, Leiria, Tomar e Abrantes, esta região caracteriza-se por ter uma paisagem relativamente plana, marcada pelo litoral atlântico e pela bacia do Baixo Tejo, onde os pontos mais elevados são constituídos pelos pequenos maciços das Serras da Arrábida e de Sintra, e pela zona sul do sistema montanhoso Montejunto-Estrela, que divide a Estremadura do Ribatejo.

Em virtude da influência atlântica, o clima é temperado. Os Verões são frescos e os Invernos, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais frias, são em regra suaves. Por outro lado os solos são, regra geral, de tipo arenoso a sul e de tipo argilo-arenoso e argilo-calcário a norte, o que tudo conjugado, torna esta região particularmente interessante para o cultivo da vinha e de pomar, sendo que, em algumas zonas, sobretudo no Médio Tejo, é também possível encontrar extensos olivais (a norte-poente) e sobrados (a sul-nascente). Por outro lado toda a zona circundante de Lisboa, a sul e a norte do estuário do Tejo, era e é também particularmente importante no cultivo hortícola, constituindo esta «zona saloia», pela sua proximidade e riqueza, a principal zona de abastecimento da capital.

As principais formações rochosas são do tipo calcário, característica que marcou a arquitectura tradicional da região, sobretudo a de melhor qualidade. Em termos patrimoniais aliás, uma das características desta região é a profusão de pequenas e médias quintas, muitas com casas nobres e capela, vestígios de uma pequena elite familiar, sem grandes tradições senhoriais, que pelo menos desde o período da Expansão se estabeleceu na periferia e regiões adjacentes da cidade de Lisboa.

De facto os grandes domínios senhoriais históricos desta região, sobretudo a partir da II Dinastia, circunscreveram-se à Coroa e a instituições na esfera da mesma, como a Casa das Rainhas (Sintra, Óbidos, Alenquer, Torres Vedras), a Casa de Bragança e depois do Infantado (Porto de Mós, Torres Novas) e as Ordens militares de Cristo (no Médio Tejo, delimitando a Grande Estremadura a nascente) e de Santiago (na Península de Setúbal e no Litoral Alentejano, delimitando a Grande Estremadura a sul). Fora do âmbito da Casa real, destacava-se a importância senhorial de alguns conventos, sobretudo do Mosteiro de Alcobaça, cujas terras constituíram a norte, por assim dizer, a fronteira natural e senhorial da Grande Estremadura, mas também de algumas das mais antigas casas conventuais lisboetas (S. Vicente de Fora, S. Domingos de Lisboa, Chelas, Santos, etc.), que foram recebendo ao longo da sua história, de reis e particulares, várias propriedades, depois transformadas em quintas, casais e aldeias que moldaram a paisagem desta região influenciados pela sua acção administrativa e dinamizadora.

Lisboa, pela sua importância económica, política, social e cultural, atraiu ao longo da sua já longa história gentes de diversas paragens que aqui chegavam, por terra e por mar, ao extremo mais ocidental do continente europeu. Não deixa por isso de ser relevante pensar na importância desta cidade e na influência que esta exerceu na história e o património desta grande região que a envolve, a Grande Estremadura.


Ao fim de 10 anos no mundo dos blogues com a página «História e Património (History and Heritage)», iniciada em 30 de Junho de 2005, a que se seguirão em 2011, «História e Arte no Período Barroco», «História de Almada», «Lugares de Almada», «Lugares da Caparica», «Lugares do Concelho do Seixal» e «Arquitectura Religiosa Moderna», começo agora um novo projecto com o Blogue «Lisboa e a Grande Estremadura: História e Património», que sucede assim ao blogue também criado em 2011, «Património Religioso da Região de Lisboa», alargando as temáticas ao restante património histórico, mas mantendo as entradas já publicadas anteriormente, adicionando outras da minha autoria que se encontravam dispersas por outros lugares.

Esta página / blogue divulgará apontamentos, alguns pouco conhecidos, sobre o património histórico de Lisboa e da Grande Estremadura, procurando sempre que possível evidenciar a estreita relação entre a história e desenvolvimento da capital e da grande região que a envolve.


Rui Manuel Mesquita Mendes


Caparica, 28 de Setembro de 2015

São Pedro da Cadeira (IV): Património religioso

(**) REVISÃO: 17 de Julho de 2014

Capela de N. Senhora da Esperança ou das Candeias ? (Coutada)

 
(Capela de N.ª Sr.ª da Esperança – Col. site www.saopedrodacadeira.pt)



No lugar da Coutada, na quinta dos Priores, existe uma Ermida dedicada a N. Senhora da Esperança que está ligada a uma tradição segundo a qual o seu fundador a ergueu em agradecimento à Virgem por conseguir finalmente ter um filho, depois de os dois primeiros lhe terem morrido.
Não se sabe quem foi o seu fundador mas apenas que em 1758 pertencia ao Desembargador José Cardoso Castelo e que a mesmo se tinha arruinado com o terramoto junto com a Quinta.
Foi reconstruída em 1800 por José Franco de Carvalho e aberta ao culto por Licença dada em 10 de Maio de 1800 (1).
No século XX foi de novo reconstruída junto com a quinta.


Igreja de N. Senhora da Saúde (Coutada)

 (Igreja da Coutada – Col. site www.saopedrodacadeira.pt)


Igreja edificada pelos moradores deste lugar segundo projecto do Arqt.º António Flores Ribeiro (Secretariado das Novas Igrejas do Patriarcado). Depois da 1.ª pedra ter sido lançada em 1 de Janeiro de 1981, foi solenemente inaugurada e aberta ao culto em 23 de Setembro de 1984 (2).



Capela de St.º António (Quinta das Figueiras)


(Capela da Quinta das Figueiras, Col. João Luís Alves Francisco) (*)

Ermida edificada em 1710 por António de Miranda dos Santos junto das casas da sua quinta das Figueiras, cuja Licença de edificação foi registada na Câmara Eclesiástica em 15 de Maio de 1710 (3).
Em 1758 pertencia a Capela e Quinta a João da Costa e Morais.
Em 1911 estava a Capela secularizada e as imagens e objetos de culto encontravam-se à guarda da Igreja Paroquial.



Igreja de S. João Baptista (Assenta)

 
(Igreja de Assenta – Col. site www.saopedrodacadeira.pt)

A Capela original foi edificada em 1751 pelo Pe. João Álvares e demais moradores no Casal das Figueiras e Assenta. Tinha rendimentos próprios consignados numa Escritura de dote feita em Torres Vedras a 12 de Agosto de 1749 pelo tabelião José Pinto Valadares. Teve Licença para ser benzida e nela se dizer missa em 29 de Junho de 1751 (4).


Era pública e foi arrolada em 1911.
No século XX foi feita uma nova igreja edificada pelos moradores deste lugar segundo projecto do GAT CM Torres Vedras.
Foi solenemente inaugurada e aberta ao culto em 19 de Setembro de 1993 (5).



Capela de N. Senhora da Conceição (Azenha Velha)


     Capela edificada por Estêvão Zagallo de Andrada e sua mulher D. Camila da Silva Negreiros, nas casas da sua quinta de S. Pedro da Cadeira também conhecida por Quinta da Atalaia (Casal do Ulmeiro ?. Azenha Velha). Tinha rendimentos próprios de 4$000 rs anuais consignados numa Escritura de dote feita em Lisboa a 6 de Julho de 1696, pelo tabelião Domingos da Silva. Teve Licença para nela se dizer missa em 30 de Julho de 1699 (6).


Igreja de N. Senhora da Conceição (Camila)

 

(Igreja da Camila – Col. site www.saopedrodacadeira.pt)


Já neste século foi edificada no Alto da Camila uma Igreja também dedicada a N. Senhora da Conceição para servir de centro culto para os moradores de Gentias, Azenha Velha, Carvalhais, Feteira e Cambelas.
O projecto foi da autoria da Desenhadora Helena Franco e a obra foi conduzida pelo sr. Roque da Silva, sendo solenemente inaugurada e aberta ao culto em 11 de Setembro de 1997 pelo Bispo Auxiliar D. António Vitalino Canas (7). (**)


Capela de S. Nuno (Soltaria)

(Capela de S. Nuno em 2009 – Col. Rui Mendes)


Capela edificada pelos moradores de Casais Miguéis e Soltaria, foi-lhe posteriormente acrescentada uma torre e alpendre também da autoria da Desenhadora Helena Franco, obra que, segundo inscrição local, foi inaugurada em 8 de Julho de 2007 (8). (**)



Capela do Cemitério



FIM
RUI M. MENDES
Caparica, 13 de Setembro de 2012

Publicado originalmente em:

http://historiapatrimonio.blogspot.pt/2013/03/sao-pedro-da-cadeira-iv-patrimonio.html


(*) Foto inserida em 12-12-2013
(**) REVISÃO: 17-07-2014

Notas:
(1) AHPL, Ms. 298, fól. 265; TT-CEL, Mç. 1805, s/n – Inéditos (revisto em 17/9/2012)
(2) Vida Católica, 2ªS, N.º 34, pág. 142
(3) AHPL, Ms. 409, fól. 9 – Inédito
(4) AHPL, Ms. 355, fól. 154; TT-CEL, Mç. 1809, N.º 148 – Inéditos
(5) Vida Católica, 2ªS, N.º 34, pág. 155
(6) AHPL, Ms. 197, fól. 249 – Inédito
(7) Vida Católica, 2ªS, N.º 36, pág. 535. Revisto em 17-07-2014 de acordo com informação da própria autora a Desenhadora Helena Franco. (**)
(8) Revisto em 17-07-2014 de acordo com informação da própria autora a Desenhadora Helena Franco. (**)

TT : Torre do Tombo
AHPL : Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa
CEL : Câmara Eclesiástica de Lisboa

São Pedro da Cadeira (III): Edifícios mais notáveis

(Igreja Paroquial de S. Pedro da Cadeira – Col. site http://fozdoriosizandro.no.sapo.pt)

A Igreja de S. Pedro da Cadeira, antiga Capela de Randide (1506) tem origem numa Albergaria cujo Compromisso parece datar do século XV, senão anterior. Foi edificada pelos anos de 1530-35 e de novo reedificada no reinado de D. João IV e no século XVIII.
Descrita em 1963 por Carlos de Azevedo e Adriano de Gusmão (1) como uma «Igreja franqueada por porta seiscentista, sobre a qual uma pequena pedra tem esculpida a mitra papal e as chaves, atributos do orago. Em frente da fachada, um cruzeiro simples, datado de 1689.
O interior, de uma só nave, é decorado por um bom silhar de azulejos do século XVII, de tipo de tapete. Tem coro alto sustentado por duas colunas toscanas com pias de água benta integradas nos fustes. A pequena capela baptismal é de notar, com a sua cúpula semiesférica e azulejos também do século XVII, de dois padrões porventura ainda mais bonitos que os já citados. A própria fonte baptismal é uma boa taça oitavada, de pedra, pouco trabalhada mas elegante, suportada por um colunelo facetado. Quanto ao púlpito, de laje de pedra rosada, é do século XVII.
Os altares colaterais não têm interesse, mas conservam algumas boas imagens. E, finalmente a capela-mor é a peça mais importante da igreja. As paredes são forradas com um largo silhar de azulejos do século XVII e, por cima destes, largas molduras de talha dourada enquadram quatro telas que sugerem o estilo de Bento Coelho da Silveira. O retábulo é um bom trabalho de talha dourada do começo do século XVIII, de quatro colunas tão ricamente trabalhadas que quase escondem a sua forma torsa. O altar, porém, é moderno e possivelmente substitui um outro mais antigo e de maiores dimensões, a avaliar pelo grande frontal que se encontra na arrecadação do lado da Epístola. Na sacristia, uma fraca pintura em madeira, do século XVII, representando O Calvário».

Este templo que apresenta características do século XVII por ter sido reedificado no reinado de D. João IV, tem contudo origem num templo anterior já referido em 1506, mas certamente muito mais antigo pois já em 1507 se encontrava em ruínas, razão pela qual foi feito de novo entre 1530 e 1535, sendo a capela-mór por conta dos padres de S. Miguel de Torres Vedras, e o corpo da igreja do povo (2).
Por causa de ruínas sofridas no século XVII, de origem não especificada, os fregueses alcançaram licença de D. João IV para a sua reedificação, conforme regista o Cura de S. Pedro da Cadeira nas suas Memórias Paroquiais de 1758, no entanto as obras devem-se ter prolongado por quase toda a segunda metade desse século como parece indicar a data de 1689 registada no cruzeiro fronteiro. É provável que o principal das obras já estivesse contudo concluído pelos anos de 1669, pois em 14 de Janeiro desse ano foi concedida licença pelo Arcebispo de Lisboa para haver Sacrário na Igreja de S. Pedro da Cadeira (3).
Esta igreja sofreu ainda danos significativos com o terramoto de 1755, pois o Cura da freguesia diz em 1758 que «era esta Igreja de uma nave a qual com o Terramoto caiu no chão, e assim está pelos Fregueses serem muito pobres».
As obras de reconstrução duraram até 1761 com grande empenho dos paroquianos que para elas contribuem, sendo que nesse ano de 1761 foi ano da entrada de Nossa Senhora da Nazaré (4).
No Fundo do Ministério das Obras Públicas regista-se ainda uma campanha de obras e reparos feitos em 1893-95 (5).

Na altura do terramoto tinha ainda a Igreja, além do Altar-mor, mais quatro altares laterais dedicados ao Santíssimo Nome de Jesus, a N. Senhora do Rosário, a S. Sebastião, e a S. Miguel.
No século XIX tinha de fundo 150 palmos e de largo 37 além 3 altares.

Tem no degrau da pia baptismal 2 lápides romanas sendo estes elementos sem dúvida um dos que mais destaque merece pela sua antiguidade.

As quatro telas com representações de parábolas que de acordo com Carlos de Azevedo sugerem o estilo de Bento Coelho da Silveira (1620+1706), também Luís de Moura Sobral (6) as regista como contemporâneas deste pintor, um dos mais profícuos do seu tempo, em Portugal, colocando-as contudo no âmbito daquelas que apesar da qualidade plástica revelada permanecem anónimas na sua autoria, sendo muito provavelmente uma encomenda feita a uma oficina de Lisboa.


Capela de N. Senhora da Cátela ou Cátedra (S. Pedro da Cadeira)


(Capela de N.ª Sr.ª de Cátela – Col. site www.saopedrodacadeira.pt)


(Desenho de Nuno Mendonça, 1963, in AZEVEDO)

Representada por Nuno Mendonça e descrita por Carlos de Azevedo e Adriano de Gusmão (7) como estando «situada já fora mas ainda cerca da povoação de S. Pedro da Cadeira na estrada para Torres Vedras, a pequena Capela da Senhora da Cátela, ou da Cátula (corrupção de Cátedra), esconde um surpreendente interior atrás de uma modesta fachada, onde apenas se recorta um pequeno e antigo óculo estrelado. Com efeito, o pequeno templo conserva um bom silhar de azulejos de ponta de diamante, do século XVII. e a capela-mor, de planta quadrada e abóbada de aresta, é mesmo notável pelo seu belíssimo forro destes azulejos que também decoram a fresta, e pelo frontal de altar em azulejos hispano-árabes. O retábulo de talha é pequeno e modesto, do século XVIII. A valorizar porém o conjunto, uma imagem de pedra policromada, do século XVI, representando a Virgem do Leite. Na pilastra do arco triunfal, chanfrado, lê-se a seguinte inscrição:
FEITA NA ERA DE 1555 ANOS
SENDO JUIZ ÁLVARO VAZ DO URMEIRO
No lintel da pequena porta que se encontra na capela-mor, do lado da Epístola, a data de l669».





 

(Alçado e Planta da Capela, Col. Arquivo Histórico de Torres Vedras)


Pouco se sabe acerca da sua fundação, sendo no entanto bastante antiga pois editores da 2ª edição de Madeira Torres referem que tinha várias propriedades com tombo feito em 1507, encontrando-se o mesmo no tombo da provedoria, juntamente com o da confraria de S. Pedro da Cadeira (fl. 342 vº). Neste tombo encontra-se esta ermida com o nome de "N. Sra. da Cátula" (8).
Segundo as Memórias Paroquiais constava-se que a Imagem era «do tempo dos Godos, a qual diz estar enterrada naquele sítio e que andando lavrando hum lavrador açoitando os bois estava a senhora enterrada, e lhe fizeram a dita Ermida», o que terá acontecido no século XV ou ainda antes.
Certa é a data da sua reedificação, feita em 1555 por ordem do Juiz da Confraria Álvaro Vaz de Urmeiro, conforme inscrição local, para estas obras deve ter contribuído a mercê concedida em 1536 por D: João III aos juízes da «Irmandade de N.ª Sr.ª da Cátula em Torres Vedras» para poderem fazer Bodo, neste tempo este tipo de licenças era dado com a condição de não se fazerem despesas desnecessárias e de se reservar a quarta parte das esmolas colhidas para os ornamentos do altar e fábrica da igreja ou capela e caso esta não necessitasse a quarta parte era para se celebrarem missas pelas intenções dos ofertantes (9).

Uma nova campanha de obras no século XVII conforme parece documentar a inscrição da data de 1669.
Esta ermida, também referida no Santuário Mariano, livro 1º tit. 25 (10) sofreu grande ruína com o terramoto conforme se relata em 1758 nas mesma Memórias Paroquiais, onde o Cura diz «que com o Terramoto se arruinou» foi contudo reedificada por iniciativa de José Francisco Miranda em 1781 recebendo Licença para nela novamente se dizer missa em 25 de Janeiro de 1782 (11). Nas obras setecentistas foi acrescentado um portal de claro gosto pombalino assim como o retábulo de talha.

(Portal da Capela de N. Senhora da Cátedra – Col. patrimoniodetorresvedras.blogspot.pt)

A IMAGEM
A imagem da Virgem do Leite tem de estatura 4 palmos. Obra em pedra onde a Senhora tem sobre o braço esquerdo o menino; estão ambas as figuras coroadas de prata, e ricamente encarnadas e pintadas ao antigo. O Menino Jesus tem na mão uma cruz (in. "Santuário Mariano")


 
(N.ª Sr.ª do Leite e Altar de N.ª Sr.ª da Cátela  –  Col. Arquivo Histórico de Torres Vedras)


RUI M. MENDES
Caparica, 13 de Setembro de 2012

Publicado originalmente em:

http://historiapatrimonio.blogspot.pt/2013/03/sao-pedro-da-cadeira-iii-edificios-mais_7.html

Notas:
(1) Carlos de Azevedo e Adriano de Gusmão – Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Vol. IV, Lisboa : Junta Distrital de Lisboa, 1963, pp. 35-37.
(2) http://arqtvedras.home.sapo.pt/LetraS/S0109.htm
(3) AHPL, Ms. 291, fól. 284 – Inédito
(4) http://ciriodapratagrande.com/saopedrocadeira/?file=kop1.php
(5) TT, Ministério das Obras Públicas mç. 472
(6) Luís de Moura Sobral – Bento Coelho e a Cultura do Seu Tempo, 1998, pág. 58.
(7) Carlos de Azevedo e Adriano de Gusmão – Idem
(8) http://arqtvedras.home.sapo.pt/LetraN/N0007.htm
(9) TT-CHR, D. João III, Liv. 22, fól. 117 – Portugal, Torre do Tombo, mf. 5448
(10) Frei Agostinho de Santa Maria, Santuário Mariano, Tomo I, Tít. XXV, pp. 86-87, 1707:
TITULO XXV
Da Imagem de nossa Senhora da Cathedra no termo de Torres Vedras
«HE Maria Santíssima a May da eterna sabedoria & ella mesma he a sabedoria assim o diz Salamão: Ego Sapientia habito in consilio & eruditis intersum cogitationibus. He Mestra da Igreja & assim está em cadeyra hoje dictando, & instruindo com a sua intercessão a todos os filhos della. Assim parece o disse Hesychio chamando lhe Cadeira de Cherubim, que como a estes espíritos se attribue a sabedoria para mostrar o Padre a alta sabedoria da Senhora lhe chama Cathedra Cherubica, Cadeira verdadeiramente de Cherubins porque della não só ensina mas sem cessar á imitação dos Cherubins está louvando ao Senhor por nós Tibi Cberubim Seraphim in cessabili Voce etc rendendo-lhe incessantes louvores pelas misericórdias que por intercessão sua nos reparte illustrando nossos entendimentos & enchendo-nos da sabedoria de sua divina graça para merecermos as da sua gloria.
No termo da Villa de Torres Vedras, duas legoas distante da mesma Villa para a parte do Norte fica a de São Pedro da Cadeira, Em pouca distancia desta Parochia, ou lugar também para a parte do Norte fica hua Ermida dedicada a nossa Senhora com a invocação & titulo da Cadeira, ou Cathedra. A ethimologia deste nome dizem alguns ser derivado de huma grande povoação, que alli havia antigamente a que chamavão a Cathedra, pela Igreja que também alli havia dedicada ao Príncipe dos Apostólos São Pedro & ainda hoje conserva a Parochia & o lugar este título chamando-se São Pedro da Cadeira ou da Cathedra, que he o mesmo. No altar mor desta Ermida he venerada hua devota Imagem de nossa Senhora : a qual ou fosse por haver estado primeyro em a mesma Igreja de S Pedro ou por estar no mesmo lugar & freguesia, he buscada e venerada com este título. Outros a invocão com o título de nossa Senhora do Ó, mas o mais commum he o de nossa Senhora da Cathedra. Donde esta Santa Imagem veyo nem em que tempo se lhe edificou a sua Ermida se ignora: o que se sabe de certo he que he muyto antiga.
Tem esta Santa Imagem de estatura quatro palmos de escultura, obra em pedra, tem sobre o braço esqucrdo ao Menino Deos; são estas Imagens muyto perfeitas, & de fermosas feições estão ambas coroadas de prata & ricamente encarnadas & pintadas ao antigo & sendo a encarnação feita há muytos annos parecem acabadas de poucos dias. O Menino JESUS tem na mão huma Cruz. Sendo aquella freguesia antiquíssima ainda querem que seja nella muyto mais antiga a Senhora. He a sua Ermida annexa à Igreja Matriz de Torres Vedras, & assim o Prior da mesma Igreja a administra. Tem aquelles lugares muyta devoção com esta Santa Imagem; obséquio devido aos muytos favores que recebem de Deos por sua intercessão».
(11) TT-CEL, Mç. 1837, s/n – Inédito

TT : Torre do Tombo
AHPL : Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa
CEL : Câmara Eclesiástica de Lisboa
CHR : Chancelaria Régia

São Pedro da Cadeira (II): Origens e história da freguesia


Época Medieval

Estabelecida como freguesia possivelmente entre o século XV e XVI, o povoamento desta zona do concelho é contudo mais antigo, como se comprova não só pelos vestígios arqueológicos aqui encontrados, como também pela documentação histórica. Assim um dos mais antigos documentos a referirem-se aos lugares desta freguesia é precisamente a Carta do aforamento feito pelo Rei D. Afonso III, em 14 de janeiro de 1272, de várias courelas na Coutada de Rendide ou Randide («Randidi» no original), nome pelo qual era conhecida esta região então, a 16 foreiros, que se podem dizer serem os mais antigos povoadores conhecidos da região, a saber.
- Pedro Domingues, genro de Sansão
- Soeiro Orvalho
- Lourenço Martins, criado de Soeiro Carvalho
- Miguel João
- Afonso Pedro, filho de Pedro Martins, tabelião de Torres Vedras
- Pedro Martins, tabelião de Torres Vedras
- Vicencio Pedro dito Reganado
- Martinho de Armaz
- Francisco Vicente
- Gonçalo Gonçalves, genro de Pedro Afonso de Óbidos
- João Pedro, da Romeira
- Miguel Mendes, genro de Paio Alaleima
- João Paio, genro de D. Romeu
- João Soeiro, de Monte Ferreiro
- Estêvão Mendes
- Jordão de Rendide





(Vida no Campo na Época Medieval)


O aforamento destas courelas era dado aos referidos foreiros na condição de eles e seus sucessores as lavrarem bem e darem 1/3 dos frutos que estas dessem, de pão, vinho, linho, de óleo (azeite ?), legumes, alhos e cebolas, bem como 2 alqueires (pela medida de Torres Vedras) de farinha de trigo peneirada, um capão bom e uma dúzia de ovos (1).
Por esta altura já existem documentos de aforamentos de bens da Ordem de Malta aqui situados pois Frei Afonso Peres de Farinha, Prior do Hospital de S. João (entre 1260 e 1276), deu a foro uma vinha no lugar de Assentada e outra em Randide, e uma vinha e herdade em Randide (2).
Em 1295 também a Colegiada de S. Miguel de Torres Vedras aparece como proprietário em Randide na Carta de venda de uma herdade «onde chamão Várzea do Redondo» (3).
No séc. XIV voltamos a ter registos da coutada e casais de Rendide pois em 1385 D. João I deu em tença a Vasco Martins da Cunha, o Moço, vassalo de D. João I, que foi senhor de Penalva, Sinde e Azere, a sua Coutada de Rendide por Carta de 6 de Outubro (4).



(Registo da Carta de D. João I em 1385)

O mesmo D. João I fará mais a doação dos casais que tinham sido do marquês de Montemor a um tal de Gomes Soares, onde é referido o casal de «Rendide»

Este tipo de senhorio de terras era muito comum no concelho de Torres Vedras e em especial no litoral do concelho, conforme regista Madeira Torres (5):
«Na Freguesia de S Pedro da Cadeira logo nos seus confins do lado Norte há alguns terrenos pensionados à Igreja de S Μiguel da nossa Villa e cobra hum considerável foro da Quinta denominada d Arêa entre esses limites e a margem direita do Sisandro existem diversos casaes que formão hum importante prazo da casa do Barão de Tavarede (Cabral Quadros) de o qual demais de algumas propinas recebe o terço da produção (b) além disso há propriedades de que se paga o quarto á Commenda de Malta e algumas pensionadas á Capella de Travassos, de onde tirão o nome. Além da margem esquerda do Sisandro há casaes pensionados ao Mosteiro de Odivellas e outros de que se paga o terço em que levão metade as Ex.mas Casas do Duque de Lafões e de Noronha; finalmente as várzeas situadas entre os lugares de S Pedro da Cadeira e da Coitada, na maior e melhor parte posto que algumas damnificadas pelas áreas do rio, humas são pensionadas à Sereníssia Casa de Bragança, e taes são as da Pailepa (c) e outras à Sreníssima Casa do Infantado e tais são as compreendidas no seu Reguengo no dito Sítio (a).
(b) Este prazo foreiro ao Mosteiro d’Alcobaça que cobra do primeiro enfiteuta o foro annual de 14$222 rs compõe se de 9 casaes sendo o de Valverde que tem Ermida como a cabeça dos outros que são o do Grillo; dois d’Alfaiata; de Sequeira; de Val de Martello; da Casa branca; do Palmeiro; do Monte Guilhão só o primeiro paga renda ou quota certa e pitanças todos os outros pagão alêm dessas o terço.
(c) Os foreiros são 68 e á excepção de 14 d’esses que só pagão pensão certa todos os outros em cima d’alguma certa e pitança pagão o terço as pensões certas em trigo somão 239 alqueires em cevada 1414 em gallinhas 374 em frangos.
(a) He a cabeça do Almoxarifado e se denomina = Reguengo de Rendide = Nos limites do lugar da Coitada tem 98 propriedade dadas em emprasamentos perpetuos com a pensão do terço de toda a novidade e pitanças de gallinhas que são na totalidade 299. Comprehende diversos casaes e propriedades avulsas dentro do Termo».

Os senhorios além de casais tinham também aqui algumas propriedades mais extensas ou quintas que exploravam diretamente ou arrendavam como por ex.º a Quinta de Pero Lobo citada em 1501 (6), ou a Quinta de Valverde, dotada de Ermida, que como se viu era prazo do Mosteiro de Alcobaça.

Época Moderna

Sobre a origem da paróquia de S. Pedro da Cadeira não existem elementos concretos, contudo os editores de Madeira Torres referem que a Igreja é «muito antiga, e porventura já do séc. XIV ou XV, a julgarmos pela linguagem do compromisso da sua confraria, o qual se acha sem data no seu tombo, e como paroquia também não se sabe precisamente o seu começo. Mas pelo menos no tempo do dito tombo (?) já o era pois fala da casa de residência que tem o clérigo de S. Pedro; o mesmo se colige já da visita de 1506, onde se diz que havia capelão, que curava e dava os sacramentos, obrigando-o a que chamasse os padres de S. Miguel para os enterros e saimentos» (7).
Na mesma visitação de 1506 o Visitador da Igreja de S. Miguel de Torres Vedras regista «achey que a freguesia da dita egreja (de S. Miguel) que asy era curada per os ditos beneffeciados era grande em que tinham mill almas de curar e mais afora a capella de Randide que era curada per capella de fora», no ano seguinte de 1507 dizem as mesmas visitações que a capela de S. Pedro da Cadeira também necessitava de reparações, sendo que a obrigação de reparar o corpo da igreja pertencia aos beneficiados de S. Miguel e o telhado era da obrigação dos fregueses (8).
Esta Igreja ou Capela de S. Pedro tinha anexa, à semelhança de outras Capelas no termo de Torres Vedras, uma Albergaria ou Hospital para pobres.

Além da Confraria de S. Pedro havia também a de N.ª Sr.ª da Cátula (ou da Cátedra), com a sua Ermida, também referida num Tombo de 1507, e que pelos anos de 1536 organizava um bodo ou festa anual para angariação de receitas para a fábrica (vide Ermida de N.ª Sr.ª da Cátedra).

O território da freguesia de São Pedro da Cadeira pertenceu na época medieval à freguesia de São Miguel de Torres Vedras, de cuja igreja paroquial era filial e cujos Beneficiados apresentavam o Cura de S. Pedro da Cadeira.
Segundo consta do livro das visitas de S. Miguel de Torres Vedras, de 1530 até 1535 foi a igreja feita de novo, sendo a capela-mór por conta dos padres de S. Miguel, e o corpo da igreja do povo, o que confirma que era Capela antiga possivelmente fundada, como referido anteriormente no século XV ou antes (9).
O Título da Igreja ou Capela era a Cátedra de São Pedro em Antioquia, festa que a Igreja Católica comemora no dia 22 de Fevereiro.

No século XVI em 1527 (10) as principais povoações da freguesia de S. Pedro da Cadeira eram:
- A aldeia de Mougelas e Randide e casais ao redor, com 48 vizinhos;
- Aldeia da Coutada com os casais ao redor, 21;
- Aldeia do Zimbral e Areia e casais ao redor, 11, com as Açaqarias (Secarias) (atualmente na freguesia de Silveira);
- Aldeia d’Alfayata (Casalinhos de Alfaiata), 25 (atualmente na freguesia de Silveira).

A Paróquia foi inicialmente conhecida por São Pedro da Cadeira de Rendide (também grafada de Randide), por se situar no Reguengo ou Lugar de Rendide, como se regista na Visitação de 1683 em que se refere: «Sebastião Dias Camelo, prior da paróquia de S. Lourenço da vila de Santarém e visitador neste arcebispado do distrito de Torres Vedras faço saber que visitando esta igreja de S. Pedro da Cadeira no lugar de Rendide (...)».

Além dos lugares atuais da freguesia fizeram ainda parte do território de S. Pedro da Cadeira lugares da freguesia da Silveira onde existem ainda as antigas Ermidas de Santa Cruz, no lugar do mesmo nome e N. Senhora da Piedade no Casal ou Quinta de Valverde, propriedade do Mosteiro de Alcobaça, antigas filiais de S. Pedro da Cadeira.

Em 15 de Dezembro de 1675 os moradores dos lugares da Silveira, Secarias e Cerca, então freguesia de S. Pedro da Cadeira, fizeram uma escritura para construção da ermida original de N. Senhora do Amparo (11), a qual foi inaugurada em 1679 e que sofreu obras no século XVIII pois em 18 de Julho de 1726 se alcança licença para nela de novo se dizer missa (12).

Com o terramoto a paróquia de S. Pedro da Cadeira sofre vários danos, nomeadamente quanto aos templos e estruturas, assim a ponte do Rio Sizandro, que ligava o sul ao norte da freguesia, e para a gente passar tiveram de lhe colocar uns paus.
Esta ponte fora originalmente edificada em 1326 pelo Mosteiro de Alcobaça por ordem real conforme se regista em escritura de 30 de Junho desse ano (13).

Na Igreja de S. Pedro da Cadeira houve uma Irmandade do Santíssimo Sacramento, responsável pela manutenção do Sacrário, cujo Compromisso foi aprovado pelo Cardeal de Lisboa, D. Tomás de Almeida, em 2 de Junho de 1740 (14). Esta Irmandade terá sucedido á Confraria de S. Pedro da Cadeira.

Foi natural do lugar de Mouguellas, lugar hoje anexo ao de S. Pedro da Cadeira, o Padre António de Morais, um dos Irmãos Terceiros da Ordem da Penitencia estabelecida na Freguesia de S. Pedro da Cadeira, que aqui foi sepultado pouco depois dos anos de 1770. Admirado estudante, e Sacerdote, que professou parte da sua vida religiosa no Convento do Varatojo (15).

Em 28 de Setembro de 1926 os lugares a norte do rio Sizandro, com exceção do lugar da Coutada, separam-se de S. Pedro da Cadeira para formar a nova freguesia da Silveira, a qual foi também elevada a paróquia em 21 de Dezembro de 1928.


RUI M. MENDES
Caparica, 13 de Setembro de 2012

Publicado originalmente em:

http://historiapatrimonio.blogspot.pt/2012/09/sao-pedro-da-cadeira-ii-origens-e.html



Notas:
(1) Leontina Ventura e António Resende de Oliveira – Chancelaria de D. Afonso III, Volume 2, # 501
(2) José Anastácio de Figueiredo Ribeiro – Nova História da Militar Ordem de Malta, Vol. II, pp. 211-212, 275
(3) TT, Colegiada de S. Miguel de Torres Vedras, Mç. 6, n.º 114
(4) Chancelaria de D. João I, liv. I.º, fól. 79v – cit, Anselmo Brancaamp – Brasões da Sala de Cintra.
(5) Madeira Torres – «Descripção histórica e economica da vila e termo de Torres Vedras», Memórias da Academia Real de Ciências de Lisboa, Vol. 11-12, pp. 279-280
(6) TT-CHR, D. Manuel I, liv. 37, fól. 61
(7) http://arqtvedras.home.sapo.pt/LetraS/S0109.htm
(8) Isaías da Rosa Pereira – «Visitações da Igreja de São Miguel de Torres Vedras (1462-1524)», Lusitania Sacra, 2.ª Série, N.º 7, 1995, pp. 181-252
(9) http://arqtvedras.home.sapo.pt/LetraS/S0109.htm
(10) Anselmo Branccamp [ed.], «A Povoação da Estremadura no XVI Século», Archivo Histórico Português, Vol. VI, Lisboa, 1908, pp. 254-255
(11) Pinho Leal, Portugal Antigo e Moderno, Tít.º Torres Vedras, pág. 689
(12) TT-CEL, Mç. 1809, N.º 352 e 344 - Inédito
(13) TT, Coleção Especial, Cx. 89, n.º 23 – cit. Pedro Azevedo, «Miscellanea archeológica», O Archeólogo Português, Vol. VII, N.º 7: Julhp de 1902, Lisboa : Imprensa Nacional, 1903, p. 180, 182-183:
«Sabhan todos que ena villa de Torres uedras ssoo Alpender de Martin ssymhões Aluazil conuen a suaber prestumeyro dia do junho era de Mil e trezentos e sase~eta e quatro anos en presença de mjn Domingos de carnyde publyco Tabelliõ del Rey ẽ na dita villa e das t(estemunha)s que adeante sson escritas ffrey Steuã procurador e celareyro do que a orden de Alcobaça a ẽ Torres uedras e ẽ seu termho disse e ffrontou ao dito Aluazil que El querya cõprir a carta del Rey que El dise que tijnha sarrada pera fazer as pontes asy e como ẽ ela era denyaado come quer que nõ ffose dereyto protestando que nõ ffosse ẽ seu preiuizo e que a querya ffazer en esta guyssa en rrandide ena testeyra per hu entesta Alcobaça conuen a ssaber ponte de lageas per tal guyssa que sen receo ffosen per ela e que durase uijnte e trynta e quarẽeta anos se mester ffose e se caese que a farya per esta guyssa como dito he das quaes cousas o dito ffrey Steuã pydiu a mjn Tabeliõ hu t(estemunh)o Eu deylho. ffeito no dito logo. Ts. Gonçalo moreyra Martin anes das couas Martin Anes Johã uycente procuradores Afonso martins (sic) Domjngos Morãao e outros. Eu dito Tabeliã a esto ffuy este testemujnho screuy e aqui meu signal pugy que tal + e».
(14) AHPL, Ms. 583, fól. 281 – Inédito

(15) Fr. Manuel de Maria Santísisma. Historia da fundaçaõ do Real Convento e Seminario de Varatojo, com a compendiosa noticia da vida do veneravel Padre Fr. Antonio das Chagas, e de alguns varoens illustres filhos do mesmo convento, e seminario ...", Tomo II, Porto : Ofician de António Álvares Ribeiro, 1800, págs. 627-628

TT : Torre do Tombo
AHPL : Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa
CEL : Câmara Eclesiástica de Lisboa
CHR : Chancelaria Régia