sexta-feira, 24 de junho de 2011

Palácio Távora Galveias, no Campo Pequeno (Lisboa)


 O Palácio Távora Galveias e a sua Capela de Santo António (hoje desaparecida)

(Imagem: http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/)

Em 12 e 14 de Fevereiro de 2011 realizou-se uma reconstituição histórica * de uma casa de campo dos subúrbios de Lisboa nos fins do século XVII, princípios do século XVIII. O local escolhido foi o Palácio Galveias, que desde 1931 aloja a Biblioteca Municipal Central de Lisboa.
* cfr http://blx.cm-lisboa.pt/noticias/detalhes.php?id=571

Como se sabe o Palácio Galveias foi casa de campo dos Távoras desde o século XVII até 1759 quando esta família foi desapossada de todos os seus bens no famigerado Processo dos Távoras, na sequência da tentativa de assassinato do Rei D. José I.

Em 1707 o Pe. Américo Carvalho da Costa menciona na sua Corografia Portuguesa que junto das casas desta quinta existia uma Ermida dedicada a Santo António.

A edificação desta Ermida ou Capela, hoje desaparecida e já não citada nas Memórias Paroquiais de 1758 poderá indiciar o período da construção inicial das actuais casas do Palácio.

Tendo por base elementos documentais existentes no Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa foi possível apurar o seguinte acerca da origem da referida ermida ou capela:

ELEMENTOS SOBRE A CAPELA DO PALÁCIO GALVEIAS
1644 – Ermida de Santo António nas casas da quinta do «Campo Pequeno de Alvalade» de D.ª Leonor de Távora
2 de Março: Provisão de Licença de missa
17 de Março: Escritura de dote

A ermida de Santo António, com porta ou acesso exterior, foi edificada por António Luís de Távora e sua mulher D. ª Leonor de Távora junto às casas da sua quinta do «Campo Pequeno de Alvalade» em período anterior à obtenção da licença de ermida pública (1644), sendo muito provável que esta edificação seja simultânea ou pelo menos contemporânea com a edificação do resto das casas do palácio (que hoje ainda mantém traços deste período pós 1640). No entanto esta propriedade já anteriormente se encontrava na posse da família dos Távoras.

O titular da ermida - «Santo António», além de ser então popular como santo português num período de restauração da casa real de Portugal em que se reafirma o direito à nacionalidade e libertação da coroa espanhola, estaria certamente associado ao santo padroeiro (dito «do nome») do proprietário da quinta - António Luís de Távora, sendo esta prática muito comum na fundação de capelas em casas particulares, ou seja a atribuição do título ao santo padroeiro do fundador das mesmas.

Foi em 1644 que D.ª Leonor de Távora pediu licença ao Cabido da Sé de Lisboa (cuja cátedra estava vacante por morte do Arcebispo de Lisboa - D. Rodrigo da Cunha em 3 de Janeiro de 1643) para se poder dizer missa na ermida que tinha mandado edificar nas casas da sua quinta do «Campo Pequeno de Alvalade», no limite da freguesia de São Sebastião da Pedreira, então subúrbio da cidade de Lisboa.

Vista a informação do pároco que dizia que a dita ermida era pública com porta patente para a rua, estava decentemente ornada, e que seria de grande utilidade para os assistentes na dita quinta e sítio do «Campo Pequeno de Alvalade», foi concedida licença para nela se dizer missa, salvaguardando os direitos paroquiais, por Provisão de 2 de Março de 1644, conforme se registou na folha 134 do Livro VIII do Registo da Câmara Eclesiástica de Lisboa.

A licença foi condicionada à feitura de uma escritura de dote para «guizamento» e ornamento da mesma ermida, escritura essa que foi feita pouco depois pela mesma D.ª Leonor de Távora nas notas do Tabelião de Lisboa Ambrósio Lopes de Barbuda em acto notarial datado de 17 de Março de 1644 (transcrita no mesmo Livro de registo da Câmara Eclesiástica). Determinava a dita escritura que no melhor rendimento da dita quinta se guardassem para a fábrica da dita ermida 6$000 rs em cada ano, sendo esta obrigação perpétua e feita em nome da mesma dotadora e dos seus descendentes e de todos aqueles que viessem a possuir a dita quinta e ermida.

D.ª Leonor de Távora era mulher de António Luís de Távora 2.º Conde de São João da Pesqueira, e mãe de Luís Álvares de Távora (1634-1672), 3.º Conde de São João da Pesqueira e 1.º Marquês de Távora.

Fonte: Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa, Unidade de Instalação 316 (antigo Manuscrito 659), fl. 134


ELEMENTOS SOBRE O PALÁCIO GALVEIAS

O Palácio Távora-Galveias é uma das mais notáveis residências nobres de Lisboa do séc. XVII e um dos melhores exemplos de casa nobre portuguesa seiscentista. Foi construído em meados do séc. XVII como casa de campo, por um dos membros da família Távora, permanecendo na família até 1759, sendo posteriormente confiscado pelo Estado.
Em 1801 foi adquirido por D. João de Almada de Melo e Castro (5º Conde das Galveias), recebendo na altura obras de restauro. Uns anos mais tarde foi comprado por Braz Simão conhecido capitalista lisboeta. O seu estado foi-se degradando até que, em 1928, entrou na posse da Câmara Municipal de Lisboa que levou a cabo várias obras de restauro.
É pelo seu exterior que o edifício deve ser apreciado. Sendo inovador a planta em U, de influência francesa, impõe-se pelo rigor do traçado e por uma perfeita simetria.
Podemos destacar o portão heráldico, ricamente trabalhado, de tipo maneirista, está emoldurado por duas colunas caneladas com anéis envolvente. Sobre o entablamento destaca-se o escudo heráldico de Lisboa (1930) que substituiu o brasão da família Melo e Castro. O remate das colunas relevado, dispõe de cada lado uma pequena peça de artilharia de pedra, presumivelmente evocativas da participação dos Távoras nas guerras da Restauração. (In Araújo, Norberto, Inventário de Lisboa, Fascículo V, C.M.L, Lisboa, 1946 ; O Livro de Lisboa, Lisboa, 1994).
O átrio, ou pátio nobre, em quadra regular, é a zona mais importante do imóvel.
Contém apontamentos decorativos notáveis: o chão é empedrado, de calçada portuguesa e o acesso na face do fundo é feito por três portões com ornatos de cantaria e cinco janelas; três centrais, com pequena balaustrada, apresentando as restantes como remate, não um vulgar frontão, mas um motivo renascentista semi-circular sob a forma de concha estilizada, motivo glosado também na arquitectura religiosa do principio do séc. XVII. A fachada sul, sobre o jardim, é constituído por dois corpos laterais simétricos aos da frontaria, ligados entre si num corpo central com terraço, guarnecido de balaustrada.
O interior do palácio retém elementos seiscentistas: o átrio em rotunada com enorme arco abatido e tecto de abóbada, e a escadaria que se desenvolve em dois lanços curvos laterais, no fundo o átrio. Toda a escadaria está revestida com silhares de mármores de embrechados policromos. Em cada sobreporta interior de acesso à escadaria encontram-se dois nichos de mármore rosa e branco. No encontro dois lanços de escada, destaca-se uma composição heráldica dos Melo e Castro, em brasão dividido por quartelas.
Fontes:
http://blx.cm-lisboa.pt/fotos/gca/1132598375algumas_notas_sobre_o_palacio_galveias.pdf

Breve Cronologia:
Séc. 17 (1644) – construção do palácio por elemento da família Távora (provavelmente António Luís, 16º Senhor da Casa, falecido em 1653), como residência campestre sasonal;
O palácio incluía uma capela pública dedicada a Santo António,
1672, 26 Novembro – no palácio morre D. Luís Alvares de Távora, 1º marquês do título, 17º Senhor da Casa e 3º conde de São João da Pesqueira, a propriedade constituía-se então não só do palácio mas de vasta quinta que se estendia (com parque e jardins) para Sul- Poente;
Séc. 18 – pintura de um tecto perspectivado por Vincenzo Baccherelli (1672-1745), desaparecido durante um incêndio;
1755 – o palácio torna-se residência permanente dos Távoras, na sequência dos danos causados pelo Terramoto de 1 de Novembro na sua residência urbana;
1759 – na sequência do denominado Processo dos Távoras, o palácio passa para a posse do Estado;
1801 – aquisição do imóvel por D. João de Almada Melo e Castro, 5º conde das Galveias (pelo montante de 16.000 cruzados), o qual empreende uma importante campanha de obras de beneficiação e restauro;
1814 – por morte de D. João de Almada Melo e Castro, herda o palácio seu irmão D. Francisco, 6º conde das Galveias;
séc. 19, final - aquisição do palácio às herdeiras do 8º conde das Galveias (D. Fernando de Melo e Castro) pelo capitalista lisboeta Braz Simões, iniciando-se um período de degradação que se prolongará até á década de 20 dos século 20 ;
1927 – processo de expropriação (aos herdeiros de Braz Simões) por motivos de utilidade pública;
1928, 22 Janeiro – Doação à Câmara do Palácio das Galveias e terrenos anexos com a área de 2461 - Simões e Simões Lda. (PT/AMLSB/AL/CMLSB/ADMG-N/02/11337)
1931, 5 Julho – inauguração das novas instalações do então Arquivo, Biblioteca e Museu Municipal no palácio, com a presença do Presidente da República, General Óscar Carmona;
1942 – a parte do Museu Municipal é transferida para o Palácio da Mitra;
1958, 13 de Outubro – Escritura de elaboração do projecto de ampliação do Palácio das Galveias, por Vasco Morais Palmeiro Regaleira. (PT/AMLSB/AL/CMLSB/ADMG-N/02/04413)
1998-1999 – abertura gradual de novas salas de leitura ao público.
Fontes: Elementos sobre a Capela do Palácio Galveias (ver texto anterior)
http://www.monumentos.pt
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/


RUI M. MENDES
Caparica, 2 de Março de 2011

FOTOGRAFIAS DO PALÁCIO GALVEIAS







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