A Quinta de Palhais (Loures) e a sua Capela de Nossa Senhora dos Prazeres
Na Freguesia de Loures, na Quinta de Palhais, que pertenceu ao Conde de Castelo Melhor existe uma antiga Capela dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres, embora o imóvel não se encontre classificado, trata-se de um interessante exemplo de arquitectura civil da primeira metade do século XVIII, que, como em outros casos semelhantes, contemplava também o seu espaço religioso, neste caso uma Ermida pública com porta para a rua.
Das fontes conhecidas (ver extractos abaixo) são referidos elementos (p.ex. os azulejos e o campanário) que parecem datar a capela do período de 1726~1730.
Efectivamente a actual Capela será um pouco anterior a estas datas, mais exactamente de 1721, pois é neste ano, mais precisamente em 8 de Agosto, que D. Froilo de Vasconcelos da Cunha, Secretário da Junta dos 3 Estados [e Fidalgo da Casa Real], então morador na rua de S. Boaventura, freguesia de N.S. das Mercês, Lisboa Ocidental, se obriga a dotar em 6$000 réis anuais a Fábrica da Ermida de Nossa Senhora dos Prazeres que edificou na sua Quinta de Palhaes, na freguesia de Santa Maria de Loures (cfr. Escritura de Dote pelo Tabelião João de Azevedo – DGARQ/TT, Notariais de Lisboa, Of.º 1-A, Cx. 41, L. 404, f. 35v).
Este Dote, que fica vinculado aos rendimentos da quinta, serviria para os ornamentos e mais necessidades da ermida, conforme se determinava nas Constituições para obtenção da devida licença de culto para nela se dizer missa como ermida pública.
A Licença de culto foi concedida por Provisão de D. Tomás de Almeida, Cardeal Patriarca de Lisboa, dada em 12 de Agosto de 1721 (DGARQ/TT, Câmara Eclesiástica de Lisboa, Mç. 1808, n. 319).
Em 1758, 1760, e 1763 a Ermida aparece como pertencendo ao Conde de Castelo Melhor, que seria então D. José de Vasconcelos e Sousa Caminha Camara Faro e Veiga, depois 1.º marquês de Castelo Melhor (Título criado por D. José I, rei de Portugal por carta de 10-10-1766, cfr. http://www.geneall.net/P/tit_page.php?id=369).
No início do século XIX foi esta quinta vendida a Claudino José Carrilho, passando depois a D.ª Emília Carolina Carrilho Avellar Telles, e em 1909 pertencia aos seus dois filhos.
A Ermida aparece descrita em 1909 como sendo «ornada até meia altura das paredes interiores de bello antigo azulejo, com pavimento de ladrilho». Na mesma altura ainda lá existiam também em tela dois quadros a óleo de S. Pedro e S. Paulo.
Nela se fazia todos os anos a festa de Nossa Senhora dos Prazeres com concorrido arraial e procissão, saindo sobre andores a imagem grande da padroeira e «algumas outras Imagens mais pequenas, das muitas que lá existiram em vulto; procissão que dava volta ao cruzeiro da Via Sacra, a meio kilómetro, o qual ainda existe próximo de uma ponte (1909)» (Fonte: Joaquim José da Silva Mendes Leal, Admirável Egreja Matriz de Loures (…),1909, pp. 182-183)
Descrições:
(1758)
«No Lugar de Palhaes a Ermida de N. S. dos Prazeres na Quinta do Ex.mo Conde de Cast.º Milhor. Com porta Publica».
Fonte: DGARQ-TT, Memórias Paroquiais , Loures
(1760)
«Em a quinta de Palhais do Conde Castelo Melhor [Fl. 45 r] dedicada à Senhora dos Prazeres».
Fonte: Isaías da Rosa Pereira, «Subsídios para a História da Diocese de Lisboa do Século XVIII - Arquivo da Cúria Patriarcal de Lisboa, Visitas de 1760, ms.54»; Lisboa: Acad. Port. de História (Subsídios para a História Portuguesa, 18)
(1763)
«Nossa Senhora dos Prazeres Em Palhaes na quinta que hoje pos sue o conde de Castello Melhor»
Fonte: João Baptista de Castro, Mappa de Portugal antigo e moderno, Volume 3, 2.ª Ed. p. 278
(1909)
«Palhaes – No alto de Palhaes, á esquerda está a casa e terrenos, Morgado pertencente e foreiro ao Convento de Odivellas; e á direita a casa, quinta e pomar, propriedade que fora da titular casa Castello Melhor, que vendida haverá um século passou por contracto de venda para Claudino José Carrilho, pertencendo depois em partilha á Ex. m:ª Sr. a D. Emília Carolina Carrilho Avellar Telles, e hoje a seus dois filhos. A respeitosa Ermida é ornada até meia altura das paredes interiores de bello antigo azulejo, com pavimento de ladrilho. Ainda lá existem em tella dois quadros a óleo, quasi tamanho natural de S. Pedro e S. Paulo; todos os annos se fazia n'esta Ermida a festa do orago e concorrido arraial, sahindo sobre andores em procissão, a grande Imagem de Nossa Senhora dos Prazeres, titular da Ermida, e algumas outras Imagens mais pequenas, das muitas que lá existiram em vulto; procissão que dava volta ao cruzeiro da Via Sacra, a meio kilómetro, o qual ainda existe próximo de uma ponte».
Fonte: Joaquim José da Silva Mendes Leal, Admirável Egreja Matriz de Loures (…),1909, pp. 182-183
(séc. XXI)
A residência ostenta uma elegante escadaria exterior de acesso ao andar nobre, onde se verifica uma sucessão de dependências ornadas de azulejos datados de 1730. Possui capela integrada na fachada lateral. A fachada da capela é dominada por um grande janelão de cantarias trabalhadas e pelo campanário construído, ou restaurado, em 1726. É dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres. A quinta pertenceu originariamente aos Condes de Castelo Melhor.
(texto acrescentado em 10 de Junho de 2011)
Quinta de Palhais, Palhais, Loures
QUINTA
«Casa organizada em comprimento e prolongada ainda por construções anexas. Ao longo do caminho toda a correnteza só tem paredes cegas. Ao longo do lado contrário, viradas ao terreiro interior, estão quase todas as aberturas e as duas escadas exteriores que sobem encostadas ao edifício, uma com acesso à "casa de fora" e a outra a um dos corpos anexos. O terreiro é aberto à paisagem, no lado oposto à habitação, e fechado nos lados mais curtos por uma abegoaria e por um braço estreito, com terraço, em frente à porta principal, sob o qual fica o portão de entrada no terreiro. Do lado de fora, na continuidade da parede do portão, tem a residência duas únicas varandas às quais se segue a fachada da capela, corpo rectangular encostado ao comprido do lado cego da habitação. Em frente à porta da capela e à empena da casa há um recinto, outrora semi-público, hoje gradeado.
Segundo a actual inquilina e descendente dos primitivos proprietários (Condes de Castelo Melhor) a casa destinava-se apenas ao recebimento de rendas. No campanário estarão inscritas as datas de 1580, fundação da capela, e 1726, restauro da mesma e da casa.
Exteriormente a construção é simples, rebocada e caiada, as molduras dos vãos são rectas e lisas, e as varandas têm grades com o desenho corrente no século XVII e primeira metade do século XVIII.
As salas do piso nobre, mesmo as muito pequenas, têm altos silhares de azulejo joanino e tectos de masseira. E natural que o piso térreo se tivesse destinado inicialmente a serviços. Obras tanto do século XIX como recentes adaptaram-no também a habitação.
A capela é coberta com abóbada de berço abatido, tem coro, sacristia/corredor atrás da parede do altar e azulejos de finais do século XVII ou princípios do século XVIII que, pelos temas versados, não devem estar na situação original.»
CAPELA
Na fachada principal, de planta base rectangular corresponde a uma das três variantes: a que não tem capela-mor, o que acontece normalmente nas Capelas rurais mais pequenas (por ex. como na Casa de Vila Fria, e nas Quintas da Serra Sassoeiros, da Madre de Deus - Sintra, e da Casa de Massarelos - Caxias). A cobertura da nave é de abóbada de berço.
A Pequena sacristia com duas portas na parede do altar, compartimento rectangular muito estreito, como um corredor, que ocupa em comprimento toda a largura da capela por trás da cabeceira. Tribuna ao lado do altar para utilização dos donos da casa.
Fonte: João Vieira Caldas, A Casa Rural dos Arredores de Lisboa no Século XVIII, 1988, 2.ª Ed. 1999, pp. 64, 75, 76, 394
QUINTA
«Esta casa, construída em 1580, com a sua escada exterior, o seu andar nobre onde as pequenas divisões contíguas, muito arranjadas, são coroadas por tectos em masseira e decoradas por azulejos que representam cestos com flores datados de 1730, aparentemente nada tem de original. Contudo possui algo de bastante raro: a posição da capela, situada na fachada lateral mais estreita, realçada pela cantaria de uma janela e por um campanário. Esta parece ter sido construída ou restaurada em 1726, tal como indica uma inscrição no campanário. Foi consagrada a Nossa Senhora dos Prazeres: «todos os anos se fazia nela uma grandiosa festa com arraial. A procissão dava a volta ao cruzeiro que existia à entrada da povoação...» Curiosamente, no interior, os lambris de azulejos, provenientes talvez de uma demolição, representam cenas de caça. A do leão, quase idêntica à do Palácio do Correio-Mor, que é atribuída a Bartolomeu Antunes por volta de 1740, parece ter sido inspirada pela mesma gravura. A sacristia é decorada de forma clássica, por azulejos de figura avulsa.
A quinta, propriedade dos condes de Castelo Melhor, pertenceu em seguida à família Carrilho Avellar Telles».
Fonte: Anne de Stoop, Quintas e Palácios nos Arredores de Lisboa, 1986, Ed. 1999, p. 370
RUI M. MENDES
Caparica, 31 de Maio de 2011
MINHA AVO MEU PAI E TANBÈM EU NASCI NESTA QUINTA MARAVILHOSA
ResponderEliminar